Notícia FIBE

Representante de bloco e deputado municipal conversam sobre o Carnaval de rua em Lisboa   

Convidados do Duetos – Diálogos Além-Mar, a brasileira Andréa Freire (Colombina Clandestina) e o deputado português Vasco Barata (BE) discutiram a burocracia, a cultura e a história da folia em conversa a ser exibida no dia 9.

José Roberto Afonso (FIBE), Vasco Barato (BE), Andréa Freire (Colombina Clandestina) e Nei Barbosa (Bloco Barbas). Imagem: Líbia Florentino

As licenças, os seguros obrigatórios, os altos custos com policiamento e limpeza têm lançado sombra sobre o brilho incontestável dos blocos de rua brasileiros no Carnaval de Lisboa. A manifestação, que é histórica, cultural e política para a maior comunidade de imigrantes radicada na capital portuguesa, conforme dados do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras, tem atraído a multicultural audiência europeia também e inspira a nova edição do Duetos – Diálogos Além-Mar.  

A conversa entre a brasileira diretora-fundadora do Colombina Clandestina, Andréa Freire, e o deputado Municipal português Vasco Barata (BE) estreia-se no YouTube do Fórum de Integração Brasil Europa – FIBE neste 9 de fevereiro, véspera do desfile dos blocos de rua pelas ladeiras lisboetas. “A gentrificação não afeta apenas a habitação. Lisboa também vive a gentrificação do espaço público”, opinou Andréa Freire, ao comentar as dificuldades burocráticas enfrentadas pelos blocos brasileiros, que “aumentam a cada ano, desde 2020”.  

Há quatro carnavais, os cortejos são considerados, juridicamente, eventos culturais, perdendo assim, o componente de manifestação política que os beneficiava (Decreto Regulamentar nº 2-A/2005). “A questão aqui é o que é a cidade? E qual é que é o direito à cidade? Nós temos direito a ocupar a cidade e a viver a cidade enquanto pessoas ou temos só enquanto consumidores? E isso é algo que se relaciona com o Carnaval e se relaciona com tudo o que são políticas públicas”, comentou Barata. “Se não tivermos patrocínio, como acontece nos Santos Populares, não podemos fazer cortejo? E como ter patrocínio se os 13 blocos que desfilam na cidade estão negociando com a Câmara Municipal de Lisboa desde agosto, mas às vésperas do Carnaval ainda não temos licença?”, completou Andréa.  

Mediada pelo fundador do Bloco Barbas (RJ), Nei Barbosa, que também é integrante da Sebastiana – Associação Independente dos Blocos de Carnaval de Rua da Zona Sul do Rio de Janeiro, a conversa entre os dois representantes passou ainda pelo simbolismo do Carnaval, com contribuição da historiadora brasileira Maria Clementina Pereira Cunha, professora da Universidade Estadual de Campinas; pela responsabilidade dos blocos; pela economia; pelas barreiras e obstáculos. “Há interesse da Câmara de que Lisboa fique internacionalmente conhecida como a capital europeia do Carnaval brasileiro, com todos os benefícios para o turismo e a hotelaria?”, questionou Freire, durante o Duetos.  

“Encontramo-nos num momento em que, após um ano em que os vários blocos de Carnaval se dirigiram à Câmara Municipal de Lisboa e à Assembleia Municipal de Lisboa também, com uma petição para apenas que pudessem sair à rua em segurança, mas sem terem de suportar custos absurdos, vemos que essa vontade legítima foi negada e o que nós encontramos da parte do executivo da Câmara Municipal é colocar pedras no caminho”, opinou Barata.  

O deputado português referiu ainda que os grandes festivais, “que existem em Lisboa, uns a seguir aos outros, sem nenhuma ligação com a comunidade ou com a rua, nem aproximam pessoas de várias sensibilidades políticas” são isentos de taxas. “Nós achávamos que, até pela dimensão baixa dos valores que estão em causa, mas que é muito elevada para estas associações, tinha que ser encontrada uma solução rapidamente, que pudesse garantir que qualquer bloco Carnaval quisesse sair à rua o poderia fazer com a certeza de que não iria ficar com a corda ao pescoço em termos financeiros”. 

“Não se constrói uma cidade sem algum conflito. Acho que isso acaba por ser positivo. A ideia de uma cidade limpinha, higienizada, em que todas as pessoas têm o seu espaço para fazer aquilo o que querem sem entrar em contato com realidades diferentes é negativa. O conflito constrói as cidades de agora, mas uma outra coisa é os poderes públicos abdicarem da sua responsabilidade de tornar tudo mais seguro e mais exequível para as pessoas que estão a sair à rua, por exemplo”, concluiu Barata. Intitulado Bloco na Rua, o Duetos – Diálogos Além-Mar especial de Carnaval será exibido, de forma gratuita e na íntegra, no YouTube a partir das 15h deste dia 9 de fevereiro. Aceda ao canal do Fórum de Integração Brasil Europa – FIBE para saber mais sobre esse debate: https://www.youtube.com/c/forumbrasileuropa.