Um dos 26 comissários da Comissão Global para a Estabilidade do Ciberespaço, Virgílio Almeida fala de avanços da IA, mas também dos seus perigos, além de regulação com inovação e governança inovadora.
O desembarque de Emmanuel Macron, no Vietname, é apenas um exemplo. Brincadeira ou crise, o facto é que o vídeo com a reação da esposa do presidente de França é a mais nova montra de disseminação de fake news por trolls que, segundo jornais como a CNN, seriam da Rússia. O livre uso dos algoritmos das redes sociais na indústria da desinformação é uma das preocupações elencadas pelo especialista Virgílio Almeida, em entrevista ao FIBE Conversa.
Membro associado da Universidade de Harvard, ex-secretário Nacional de Política de Informática e presidente do Comitê Gestor da Internet no Brasil, o professor é um dos 26 comissários da Comissão Global para a Estabilidade do Ciberespaço e lista quatro preocupações principais do mundo de hoje face à IA generativa: «A primeira é com a desinformação que pode ser gerada. A segunda é com a eliminação de vagas devido à automação. A terceira seria a preocupação com as violações de privacidade. E a quarta, que tem sido muito forte, é o impacto da inteligência artificial na democracia. Vai ser uma ameaça para a democracia?», provoca.
Virgílio Almeida alerta que o poder das big techs é exercido através dos algoritmos e, não de forma inocente, «manipula as redes e determina o que o que vai ser disseminado. Determinam o quê? Para quem? O que que vai ser entregue? Esse poder, eventualmente, leva a questões que de violação da privacidade e da manutenção dos direitos das pessoas». O professor destaca ainda o fato de os governos não terem soberania no controle da governança dos territórios digitais. «É importante que blocos regionais, com países que têm certos valores comuns, juntem forças para resistir a esse poder, cada vez mais presente na sociedade contemporânea».
«É preciso criar formas flexíveis de governança»
Na entrevista exclusiva, concedida durante o 2º Foro Transformaciones, em Madrid, Virgílio Almeida defende responsabilização «à luz da legislação» e é categórico ao comentar que «regulação e inovação não são incompatíveis», citando como exemplo, a indústria aeronáutica, que «tem regulações muito rígidas na produção e no uso das aeronaves, e as questões de segurança são muito bem estabelecidas, mas é uma indústria que evolui». Nas palavras do professor, para haver governança sobre a inteligência artificial, os países vão ter que se ajustar em dois grandes pontos: criar modelos inovadores de políticas públicas e aumentar a participação popular na formulação dessas políticas. «O primeiro ponto é importante porque a tecnologia se desenvolve muito rapidamente e a reação dos parlamentos é muito mais lenta. Então, a tecnologia vai sendo usada e, se não houver regulação, cada vez mais interesses são formados. É preciso criar é formas flexíveis de governança».
Saiba mais sobre o 2º Foro Transformaciones
O FIBE Conversa é uma série digital que produz e torna acessível um conteúdo de credibilidade e integridade através de entrevistas a especialistas de renome mundial sobre matérias cruciais debatidas nos fóruns e workshops do Fórum de Integração Brasil Europa (FIBE). A terceira temporada tem como cenário o 2º Foro Transformaciones, realizado pelo FIBE, em Madrid, nos dias 8 e 9 de maio. As entrevistas são conduzidas pelo jornalista Jair Rattner, do Público Brasil. O primeiro episódio traz uma conversa com Marina Costa Lobo e o segundo, com Luiz Augusto de Castro Neves; a próxima trará uma entrevista exclusiva com Roberto Azevêdo.
Assista à terceira temporada do FIBE Conversa gratuitamente