Especialistas também abordaram dilemas da necessidade de mais energia para o uso da inteligência artificial durante o II Fórum Futuro da Regulação nesta quinta-feira (27), em Lisboa.

O segundo dia do II Fórum Futuro da Regulação foi encerrado com o um importante debate sobre ESG. Ruben Maximiano, especialista sênior em Competition Policy da OCDE, defendeu que “a regulação que temos hoje em dia não foi concebida para essas novas tecnologias”, abordando principalmente a questão do setor elétrico, da tecnologia em grande aceleração, focando na parte da energia e da inteligência artificial. Maximiano comentou também a produtividade relacionada a uma melhor regulação e o dilema da necessidade de mais energia para o uso da inteligência artificial. “A regulação deveria ser considerada como uma espécie de infraestrutura (…) determina como o investimento circula”, defendeu, comentando ainda os custos dos data centers de IA e a regulação da energia descarbonizada. “A IA não vai existir sem eletricidade abundante. Até que ponto os países estão prontos para isso? Os data centers estão sendo levados para onde a energia é mais barata”, comentou.

Com moderação da professora Maria Augusta Rost, especialista em Direito Administrativo, Armando Monteiro Bisneto, diretor presidente do Complexo Industrial e Portuário de Suape, levou o debate ao manejo do território, destacando a grande responsabilidade da aplicação da ESG na administração dos portos. “ESG era algo que diferenciava um negócio em relação ao outro. No setor portuário, hoje, está completamente introjetado ao próprio modelo de exploração e de operação portuária”, disse. Armando também mencionou os combustíveis novos que prometem descarbonizar, o desenvolvimento do cluster, a questão da expansão do onshore power supply e da eletrificação dos navios. Afirmou ainda que o “Porto de Suape é net zero”.
O setor farmacêutico foi abordado por Tiago de Moraes Vicente, presidente da Associação das Indústrias de Medicamentos Genéricos e Biossimilares (PróGenéricos). Vicente disse que “muito do que o ESG fala ao longo de décadas é uma evolução do que foi a questão da sustentabilidade no passado”. “O nosso produto tem uma demanda inelástica, depende muito do uso racional da energia, sem desconsiderar a atenção e o cuidado com as comunidades onde as fábricas estão instaladas”, afirmou o presidente da Pró-Genéricos, dando o exemplo da fábrica da EMS em Hortolândia (SP).
Já o Conselheiro de empresas Albérico Mascarenhas, sócio e diretor da A2M Consultoria, provocou que “ESG fica muito bonito na sigla, mas na prática o Brasil ainda precisa melhorar muito na questão da sustentabilidade e na regulação do meio ambiente”. Mascarenhas citou três principais eixos: a regulação institucional, a contratual e a legal. “A institucional vem da criação das agências e da autonomia financeira delas, para que elas não dependam de repasses”, afirmou. Ele também disse que os contratos, ao longo do tempo, principalmente de concessões públicas, setor de telecomunicações e rodovias, evoluíram bastante e, hoje, estão muito mais consistentes para eventos climáticos extremos, por exemplo. Mascarenhas mencionou que, em São Paulo desde 2019, todas as concessões de rodovias já têm uma previsão de carbono neutro e de carbono zero. Para concluir, o conselheiro de empresas disse que o Brasil precisa do “setor público e privado cumprindo a sua parte e do judiciário punindo” e deixou a provocação de que o país “tem tudo, mas precisa acabar com a lei que pega e a lei que não pega”.