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“O wokismo é necessário e urgente”

Paula Macedo Weiss defendeu, junto à Marina Costa Lobo e Belén Hoyo Juliá, uma sociedade mais inclusiva no 2º Foro Transformaciones.

Imagens: FIBE/Alberto Carrasco

Os desafios ambientais urgentes, como a crise climática e a preservação dos ecossistemas essenciais, enfrentam novos obstáculos no meio de uma mudança das prioridades políticas mundiais. Então, como “renegociar compromissos sociais e ambientais em escala global, promovendo soluções que integrem justiça social, preservação ambiental e fortalecimento democrático?”. A resposta foi tema de uma das análises principais do painel Impases Culturales: ¿Sostenibles versus Wokismo?, composto exclusivamente por mulheres: a cientista política Marina Costa Lobo, a deputada espanhola Belén Hoyo Juliá e a doutora Paula Macedo Weiss, presidente da Fundação do Museu de Artes Aplicadas de Frankfurt. A conversa, que ocorreu na manhã desta sexta-feira (9), durante o 2º Foro Transformaciones, em Madrid, foi mediada pela jornalista Amanda Lima, do DN Brasil.

Paula Macedo Weiss

Weiss citou a letra da canção Fora da Ordem, composta há 35 anos por Caetano Veloso, em um contexto de fim da Guerra Fria, para questionar se estaríamos agora em uma nova encruzilhada. “Trump e Bolsonaro abriram a ‘bolsa de pandora’ e, desde então, a agressividade e a negação da diversidade rolam soltas. Caminhamos a passos largos em direção a sociedades homogêneas. Portanto não vejo o sustentável versus o wokismo. Eles se completam em suas demandas”, disse.

“Esperamos que todos os cidadãos participem do jogo político e perdemos muito isso nos últimos tempos. Há um afastamento da política da vida propriamente dita e vamos deixando pessoas pelo caminho”, continuou Weiss. “Assim como a sustentabilidade, o wokismo é necessário e urgente. Trata de temas-chave como inclusão, pertencimento, igualdade de valores, lugares de fala. (…) O momento é de diálogo, busca, compromisso e de uma sociedade para todos”, completou a presidente da Fundação do Museu de Artes Aplicadas de Frankfurt.

Juliá, que está há 13 anos no Congresso dos Deputados da Espanha, afirmou que hoje vê uma política pior do que no passado. “Dialogamos menos, alcançamos muito menos acordos, e isso é um reflexo não só da sociedade espanhola, mas da maior parte dos países. O mundo está mais polarizado, mais centralizado, e cada vez há mais extremismo”, disse.

A deputada defendeu que, para uma melhora nas políticas nos próximos anos, precisa haver uma mudança de mentalidade: “Devemos unir a sociedade com um posicionamento moderado. Só podemos chegar a acordos cedendo e não pode sempre ser o mesmo lado a ceder. (…) Claro que preservando a democracia e com tolerância zero em relação à violência de gênero, por exemplo”. Juliá, que é de um partido popular de direita, acredita que os direitos sociais não deveriam ser apropriados por ideologias nem utilizados eleitoralmente. “Ideologias que tentam se apropriar de bandeiras, como a esquerda faz com os direitos das mulheres, não estão ajudando a defender esses direitos. Deveríamos trabalhar juntos por essas bandeiras”, concluiu.

Lobo, por sua vez, abordou a questão do “antiwokismo, que foi colocado em cima da mesa por Trump”. “Os eleitores têm influência na política externa dos países. Os debates políticos nacionais têm mudado bastante e o wokismo é um dos novos temas que polarizam imensamente. Temas identificados como woke tiveram o seu auge de 2019 a 2021. Já não estava assim na disputa com a Kamala Harris”, disse.

“O que acontece na carona desse antiwokismo é um ataque aos direitos humanos, das mulheres e das minorias, como o retrocesso nos direitos ao aborto nos EUA, por exemplo, ou as detenções ilegais de cidadãos levados para centros onde não há direitos cívicos. (…) Trump obriga a Europa a autonomizar-se. Em 2024, o parlamento europeu passou uma lei que consagra a defesa do direito ao aborto em toda a União Europeia”, afirmou a professora da Universidade de Lisboa. Então porque políticos iliberais continuam a ser eleitos? “A questão da economia é sempre central.(…) As pessoas não comem democracia”, defendeu a cientista política Marina Costa Lobo.