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Estratégias para o Brasil e a Europa nos próximos 30 anos

Luciano Coutinho disse que plano de Trump é inviável; Marcos Troyjo falou em “fenômenos microgeopolíticos“; especialistas debateram como enfrentar as guerras comerciais.

Imagens: FIBE/Alberto Carrasco

Anna Ayuso Pozo, investigadora Sênior e Coordenadora de Investigação do CIDOB – Barcelona Centre for International Affairs, Luciano Coutinho, ex-presidente do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), e Marcos Prado Troyjo, ex-presidente do NDB (Novo Banco de Desenvolvimento), participaram nesta quinta-feira (8), em Madrid, do 2º Foro Transformaciones.

Anna Ayuso

Oportunidades para la Paz: ¿Cómo darle la vuelta? é o nome do painel moderado pelo deputado federal brasileiro Pedro Paulo, que pediu a elaboração de estratégias a longo prazo para enfrentar os desafios abordados. Anna Ayuso afirmou que a Europa está num momento de se reposicionar em um mundo de transformação constante. “Com todas essas mudanças e incertezas, a União Europeia é um dos atores que passaram por uma transformação maior, desde a crise de 2008, foi aguentando várias crises que, em algum momento, pensaram que isso acabaria polarizando, partindo a Europa. Pensaram que o euro desaparecia, depois veio a pandemia, Brexit, guerra, tudo isso fez com que mudássemos a ideia de segurança europeia que tínhamos”, disse.

A investigadora ainda apontou que a UE toma decisões lentas pois precisa organizar interesses de muitos estados diferentes: “Precisamos mudar a postura da UE. Isto implica criar alianças com a América latina e com a China. (…) Existe um caminho de convergência e um dos temas fundamentais é assumir um pouco a responsabilidade histórica que a UE tem como potência colonial.”

Marcos Troyjo

Especialista nas questões geopolíticas, Troyjo disse que a geopolítica ficou tão importante que já é o momento de entender que há “fenômenos microgeopolíticos – que são de grande repercussão, mas transcorrem num arco de tempo mais curto, de quatro a cinco anos -, e fenômenos macrogeopolíticos, que tem uma extensão geracional de vinte a 25 anos”. Troyjo ainda afirmou que a “Trumpulência”, como ele define as ações de Donald Trump, seria uma dessas microgeopolíticas, fazendo o jogo de palavras turbulência, opulência e incoerência. O ex-presidente do NDB ainda comentou que os chineses veem os EUA como o polo mais forte desse momento da guerra comercial.

Luciano Coutinho adicionou que a China adotou o modelo vitorioso export-led, não deixando nenhum setor para trás, e continua liderando em têxtil, calçado, bijuteria etc. “Já no eletrônico, na indústria de insumos pesados, química, siderurgia, a China absorveu investimento alemão, copiou tecnologia japonesa, passou a perna em todo mundo. É muito difícil para os EUA reverter isso, não é viável”, afirmou.

A estratégia de Trump é inviável a curto prazo. [Joe] Biden deveria ter focado em chips de alta densidade, em determinados equipamentos essenciais e proteger alguns segmentos que a indústria americana ainda tinha competitividade. (…) Será necessário que o Trump ajuste. Ao quebrar os ovos, Trump está fazendo um omelete novo. Porém, ele não está quebrando meia dúzia, ele está quebrando todo o estoque de ovos”, declarou o ex-presidente do BNDES.

Durante a intervenção da plateia, o economista e vice-presidente do FIBE, José Roberto Afonso, destacou as oportunidades que estão nas terras raras do Brasil, antecipando um dos debates que devem surgir no 2º Foro Transformaciones nesta sexta-feira, dia 9.