Luiz Augusto de Castro Neves analisou a nova ordem mundial ao lado de Cátia Miriam Costa e Andrea Rizzi.

Ex-embaixador do Brasil no Paraguai, na China e no Japão, o atual presidente do Conselho Empresarial Brasil-China, Luiz Augusto Castro Neves, foi um dos debatedores do painel Geopolítica: ¿Un Nuevo Rediseño del Mundo?, no 2º Foro Transformaciones, em Madrid. Na análise sobre o novo colonialismo, o papel das novas potências emergentes e a corrida armamentista na Europa também estiveram presentes Cátia Miriam Costa, investigadora do CEI-ISCTE, e Andrea Rizzi, correspondente de Assuntos Globais do EL PAÍS.
Provocado pelo jornalista e mediador do painel Luiz González a respeito de uma guerra entre EUA e China, Castro Neves respondeu que o conflito não é inexorável e que estamos no velório da nova ordem internacional vigente: “Hoje não temos um jogo de soma zero porque os dois polos, China e EUA, colaboram intensamente no campo econômico”, disse. “Há um espaço de negociação importante entre ambos porque ficou claro, com o tarifaço de Trump, que qualquer tiro mais violento de uma parte seria também um tiro no próprio pé. Agora se a negociação será bem-sucedida ou não, aí é outro problema.”

“Em 2009, a China não tinha presença na cadeia de valor internacional que tem hoje”, lembrou a investigadora do CEI-ISCTE Cátia Miriam Costa. Ela afirmou que em vez de multipolaridade dentro da ordem existem diferentes ordens internacionais que se relacionam entre si e que “há um fortalecimento do discurso que reforça algo do tipo: ‘se vocês perderam durante a globalização, é porque houve globalização.”
A respeito de um novo colonialismo, o jornalista Andrea Rizzi disse que identifica uma cultura imperialista na administração de Trump. “A sua forma de dirigir mostra uma ruptura clara com décadas de política exterior americana. Trump representa o rompimento disso. Parece que não leva em conta que esse envolvimento comum seja uma ferramenta útil para os EUA e mostra uma posição extrativista em relação aos seus aliados”, afirmou.
Rizzi também disse que espera que a Europa entenda que precisa reconfigurar a sua forma de estar no mundo, de uma forma mais independente, seguindo duas vias de ação: “Primeiramente, a Europa precisa garantir uma maior autonomia que não foi desenvolvida de forma suficiente no passado relacionada à defesa. Depois, a Europa pode exercer um papel catalisador de novas geometrias de colaboração no mundo. Uma ordem que é baseada mais na força e menos nas regras.”

O correspondente do EL PAÍS também foi questionado pelo mediador, o jornalista Luiz Gonzalez, sobre a corrida armamentista na Europa. “É preciso uma mudança de gestão na União Europeia. (…) Não tem a ver com quantas armas temos, mas com o operacional. A Europa depende dos EUA em termos operacionais.”
“A OTAN não acabou porque os europeus têm um grande interesse político que continue o máximo de tempo possível para ir construindo essa autonomia. (…) É um dilema político gravíssimo. Temos o desafio de construção de um comando político militar comum. (…) Não é um conflito intelectual como alguns querem propor dentro de um contexto progressista. É um conflito prático. Temos que encontrar de onde tirar dinheiro. Tem que sair de algum lugar”, declarou Rizzi.
Lewandowski: “O crime deixou de ser local para ser transnacional“

Atual ministro da Justiça e Segurança Pública do Brasil, Ricardo Lewandowski esteve presente na plateia do painel e aproveitou o “momento muito oportuno” para levantar um nova questão que, segundo ele, o preocupa nesse “mundo de policrises (termo do filósofo francês Edgar Morin)”.
“O perigo do fenômeno da criminalidade organizada transnacional é complexo. Mostra que o crime deixou de ser local para ser transnacional. Alguns governos, como o brasileiro, estão preocupados com esse fenômeno e fazendo acordos entre países contra essa criminalidade organizada que está saindo da ilegalidade e ingressando no mercado formal”, afirmou Lewandowski. O ministro disse que o desafio para os próximos anos dos órgãos de segurança é combater sobretudo a criminalidade no meio virtual: “criptomoedas, cibercrimes, pedofilia, pornografia infantil.”