A nova guerra comercial e o impacto das tarifas de Trump foram os temas discutidos no 2º Foro Transformaciones: Un Mundo en Ebullición.

Com o título Desafíos de las Guerras: ¿Bailar al Borde del Abismo?, o quarto painel desta quinta-feira (8) debateu como a atual política norte-americana provavelmente causará a desaceleração do comércio global, impactando as cadeias de suprimentos e aumentando a inflação. Amanda Mars, diretora do CincoDías e subdiretora de informação econômica do El País, moderou a conversa entre Carlos Pio, professor adjunto da IE University Madrid; Guilherme Mello, secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda do Brasil, e Roberto Azevêdo, ex diretor-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC).

Mars pediu para que os especialistas convidados abrissem a discussão falando de riscos. Roberto Azevêdo iniciou afirmando que o maior risco é o da recessão global e da inflação bastante acentuada. “Os preços vão subir. É uma certeza matemática. A questão é quanto e como a economia vai ser afetada”, afirmou. Azevedo mencionou a falta de clareza das regras do jogo hoje: “Não sabemos quais são. (…) A tarifa básica de 10% vai ser negociada ou não? Aparentemente é fixa, mas ninguém disse isso. A dificuldade de se preparar sem saber as regras do jogo é muito grande”.
Por último, porém não menos perigosa, seria a incerteza, afirmou Azevedo. “O clima é muito ruim. Essas instituições fisicamente existem mas, na prática, não estão dando a contribuição que deveriam para a ordem internacional (…) A minha maior preocupação hoje seria qual o sistema que vai substituir o sistema que está aí hoje”, concluiu.

Guilherme Mello lembrou que não é a primeira vez que os EUA tentam definir as regras do jogo e reconstruir a ordem mundial para atender os seus interesses. “O novo problema é que a China não é a Europa nem o Japão. A China é outro ator, um ator que durante muito tempo, quando estava numa posição de inferioridade em relação aos EUA, fingia ceder e tentava diminuir ruídos. Agora a China está numa posição de maior poder e não vai aceitar passivamente uma imposição do poder americano, principalmente feita de forma tão desastrada”, declarou Mello, referindo-se à enorme tabela de tarifaço de Trump, que virou até meme. “Pela forma como o anúncio foi feito que você percebe o amadorismo com o qual está sendo conduzido esse processo”, disse o secretário.

Mello concluiu que ao menos, pela primeira vez desde a Segunda Guerra Mundial, se abre um espaço para discutir e pensar um novo arranjo global que não estava na agenda até alguns anos atrás: “Abre uma possibilidade de discutir uma nova reforma”. Já o professor Carlos Pio apontou os riscos da latino-americanização dos EUA e do default americano, que vai causar um impacto drástico. “Era melhor a gente ter um comércio mais livre, como os EUA conseguiram construir juntos com os seus aliados, e perdemos essa oportunidade. O mundo mudou e a gente continuará alijado”, disse Pio.
Amanda Mars questionou ainda se conversar com Trump hoje seria diferente de conversar no seu primeiro mandato (2017-2021). Azevêdo lembrou que, em 2020, um pouco antes da pandemia do Covid-19, conseguiu uma entrevista com Trump e procurou entender “o que ele pensa, do que ele gosta, o que o incomoda e oferecer um caminho que possa ser uma resposta ao que ele procura”. “Se for diferente do sistema como ele existe, que permita outras formas de atuação, isso interessa a ele”, afirmou.